quarta-feira, 27 de novembro de 2013

«MÁS PRÁTICAS E FALTA DE ÉTICA» AJUDARAM PASSOS COELHO A CONQUISTAR O PODER, NO PPD E NO PAÍS

Empresas de comunicação e relações públicas demarcam-se das «más práticas e falta de ética» do consultor de comunicação, Fernando Moreira de Sá, que ajudou Passos Coelho a conquistar o poder no PPD/PSD e a ganhar as eleições legislativas - noticia o jornal PÚBLICO.

«Separar o trigo do joio» – foi a intenção da direcção da Associação Portuguesa das Empresas de Conselho em Comunicação e Relações Públicas (APECOM), que agora emitiu um comunicado em que se demarca das declarações de um consultor de comunicação que admitiu ter manipulado a comunicação social e os debates entre candidatos durante o processo de eleição de Pedro Passos Coelho como líder do PPD/PSD, em 2010.
Fernando Moreira de Sá, consultor de comunicação desde 2008, defendeu, em Julho passado, na Universidade de Vigo, a sua dissertação de mestrado intitulada «A comunicação política digital nas eleições directas de 2010 no PSD pelo candidato Pedro Passos Coelho». Na semana passada, este «consultor» deu uma entrevista à «Visão», na qual admitiu sem rodeios ter constituído, com outros bloggers e elementos do PPD/PSD, uma espécie de «braço armado» de Passos Coelho na blogosfera, sobretudo em situações de condicionamento dos fóruns das rádios e televisões, comentários de notícias nos sites de jornais e, também, nas redes sociais Twitter e Facebook. Esse condicionamento foi feito durante a corrida de Passos Coelho pela liderança do PPD/PSD, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco.
Fernando Moreira de Sá descreve que, entre os mais influentes blogues políticos em 2010, encontravam-se, à direita: o Blasfémias (liberal), o Insurgente (liberal), o 31 de Armada (misto) e o Albergue Espanhol (o «espaço de bloggers apoiantes do candidato a líder do PSD, Passos Coelho»). Na esquerda eram reconhecidos: o Jugular (PS), o Causa Nossa (PS), o Corporações (PS), o 5Dias (PCP/BE), e o Arrastão (BE). Somavam-se o Delito de Opinião e o Aventar, com «elementos que vão da extrema-esquerda à direita, assim como monárquicos, republicanos, ateus, agnósticos, católicos», segundo  Fernando Moreira de Sá.
Na entrevista, este «manipulador ao serviço de Passos Coelho e Miguel Relvas apenas tornou público o que já admitia nas 26 páginas da sua dissertação. Mas somou-lhe informação: nomeou jornalistas, gestores e nomes ligados ao PPD/PSD e ao CDS/PP que hoje estão em cargos políticos, aparentemente devido à contribuição que deram a Passos Coelho na sua caminhada para o poder. E também fez críticas aos media e à falta de estratégia de comunicação do actual Governo.
A APECOM afirma que as práticas relatadas pelo «alegado» consultor de comunicação «não estão alinhadas com os princípios éticos que devem pautar a actividade de comunicação e relações públicas». E as revelações de Fernando Moreira de Sá «denotam desrespeito pelas regras de confidencialidade que devem marcar esta actividade».
José Quintela, presidente da associação, disse ao PÚBLICO recear que se façam «generalizações» a partir deste caso. «Muitas vezes confunde-se a árvore com a floresta», lamenta. Entre as duas dezenas de membros da associação encontram-se as maiores empresas de assessoria de comunicação do mercado português como são os casos da Central de Informação, da Cunha Vaz & Associados, da Emirec, da Inforpress, da Ipsis, da Lift Consulting, da Midlandcom, da Porter Novelli, da Unimagem, da Weber Shandwick ou da YoungNetwork. As duas empresas de Fernando Moreira de Sá não são associadas.
«O cenário descrito na referida entrevista não representa de forma alguma o panorama da comunicação em Portugal, marcado pela actuação de várias dezenas de empresas há vários anos no mercado e cumpridoras das regras do Código de Estocolmo, que reúne as melhores práticas internacionais deste sector de actividade, nomeadamente em termos de confidencialidade e integridade da informação», salienta a direcção da APECOM.
José Quintela realça que este é «um sector sério com profissionais de qualidade», que trabalham segundo «princípios, valores, normas de conduta e códigos éticos aprovados e respeitados internacionalmente». Por isso, distância-se das «más práticas» citadas por Fernando Moreira de Sá. «A actividade da comunicação deve contribuir para o aperfeiçoamento da democracia e nunca para a beliscar», defende o presidente da APECOM.
O PÚBLICO tentou contactar Fernando Moreira de Sá mas não conseguiu obter um comentário.

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